maio 23, 2007

Abraço

Entre o sono apareces
resoluto, sem mais nem porquês,
sem som, só imagem e toque.
Mãos dadas, encostadas as faces
que vejo, que vês?
Pele na pele
que sinto, que sentes?
Desejo, beijo,
abraço tão real, intenso,
pleno de ilusão, impossível
de tão intensa vontade
desse envolver, repousar
em suspirada proximidade.
Segundos de devaneio
abraço, aperto, aninhar
entre ombro e queixo, nesse espaço
como se fosse minha morada esse apertar.
Acordo num sobressalto de tranquilidade,
amanheço na segurança desse tocar,
desperto na quietude do teu abraço.

adc

maio 10, 2007

Vós, quem sois?

Hugs Study by Doug Hyde


Somos os laços que atamos
no caminho empedrado que pisamos.
Somos os nós que apertamos, abraçamos, beijamos
nomes, caras, expressões, pessoas, personagens.
Somos guardados em flashes de sons e imagens
no pestanejar de quem nos ouviu e viu,
somos paisagens.
Somos os vínculos criados
nas ruas, travessas e becos cruzados
com estranhos, conhecidos, colegas, amigos e amados.
Somos todos os abraços sentidos e apertados.
Somos matérias, somos espíritos,
corpos, elementos e ritos.
Somos, ficamos, estamos.
Somos, pertencemos, causamos.
Somos, consistimos, acontecemos.
Somos e desaparecemos.


adc

maio 09, 2007

Impronunciável incoerência

Inconstante
amigo, amante
aterra por aí.
Incoerente
tão igual e tão diferente.
Inconsequente,
mede o que lá vem.
Inacessível com filtro...
fumado até à última.
Incompreensível
atracção.
Inexplicável
luz do dia
Apetecível
amendoim salgado,
fatia de bolo de chocolate.

adc

maio 03, 2007

Vício

Vício das palavras
Afastamento do normal no discurso
Acção imoral de jogar com palavras
Impertinência de frases e sintagmas
Libertinagem de rimas e ritmos
Corruptas associações de vocábulos
Lasciva composição de termos
Redacção de sílabas ordenadas
Só para registar ansiedades de campos semânticos diversos
E a fascinação pelos sons padronizados, persistentes na minha razão.

adc