Entretém-te a observar a humidade da parede rosa desmaiado;
o tecto falso, que não mente, meio desmontado;
a janela de madeira com a tinta lacada a saltar;
os tubos do aquecimento arrancados que parecem ter mudado de ideias...
Há cadeiras vazias e personagens de pé, porque nem sempre aproveitamos o que a vida nos oferece.
Telefones teimam em tocar, na recepção. Conta os toques, ouve disfarçadamente a conversa, sem intenções de a memorizar.
Os segundos forçam os minutos.
Cruza e volta a cruzar as pernas, em grito silencioso de situação incómoda de espera, de ansiedade. Aguarda, aguarda, calma, paciência... Inventa assunto no teu monólogo interior. Lê os cartazes afixados: "- Suporte básico de vida."
A espera parece-me também um suporte básico de vida! Passamos a vida à espera que tudo aconteça.
Todas as manobras simples de socorro, das quais nunca te lembras...
Ouve o ranger das portas.
Há encontros de pessoas que afinal se conhecem... frequentadores assíduos da recepção e sala de espera.
O tilintar dos instrumentos nas salas onde não entras, espaços da vida que te estão vedados.
Passos das solas de borracha no piso de linóleo abanam suavemente o teu pensamento.
"- Já está...!"
Saímos apressadamente como se tivessemos atingido a nossa meta. Quase corremos para logo sentar ao portão, em companhia da dor, da incerteza, angústia, irritação...
Preferimos, a maior parte das vezes, continuar na sala de espera anos a fio sem grandes decisões...
adc
1 comentário:
"Preferimos, a maior parte das vezes, continuar na sala de espera anos a fio sem grandes decisões."
A olhar para o cartaz que nos soletra a palavra:
SILÊNCIO
Gude uiquende per tê
Até outro instante
(coêncidencias... ontem estive na companhia dos Prentenders, a dar cabo de saudades.)
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